Esse ano, um casal de amigos largou a vida na cidade grande e foi morar na roça. Assim, desse jeito: deixou pra trás emprego, casa, parentes e amigos em Belo Horizonte e se mudou para um sítio em Angueretá, cidadezinha perto de Paraopeba, em Minas Gerais.
Quando André e Rozi contaram que iam se mudar, nossos pensamentos variaram entre “Gente, é sério?” pra “Que coragem!”. Apesar da gente ver notícias de pessoas que já fizeram isso, a realidade é sempre mais chocante quando é alguém próximo a você que toma esse tipo de decisão.
Como é a cidade de Angueretá
Angueretá fica a pouco mais de 120km de Belo Horizonte e tem uma praça, um campo de futebol e uma igreja. Pra chegar no sítio, são 2km de estrada de terra. O lugar é uma paz e, em cada cantinho, tem aquele clima aconchegante de “casa de roça”, desde a cozinha com fogão a lenha e quitutes que a Rozi prepara até a charrete que eles usam pra ir até a cidade.
Além disso, não tem sinal de celular e a internet via rádio foi instalada por eles a pouco tempo. Não tem vizinho “de porta”, e o mais próximo fica a alguns minutos de caminhada.
Como eles tomaram a decisão de mudar da cidade pra roça
Pra entender o que levou a essa mudança radical de vida, a Rozi contou pra gente um pouco sobre tudo que está vivendo. Leia e sinta-se inspirado por eles 😉
Conte um pouco sobre sua infância/vida. Você sempre teve esse apreço pela roça?
“Mamãe morava em BH e veio passar férias aqui, na roça, quando estava grávida de mim, porque ficaria difícil vir depois que eu nascesse. Porém, resolvi que era aqui mesmo que eu iria nascer e decidi sair bem antes da hora. rs Não existem médicos na cidade e eu estava sentada. Levaram mamãe para a cidade mais próxima, Paraopeba – MG, e foi lá mesmo que nasci! =)
Logo depois, meu pai nos abandonou e, com seis meses de vida, viemos morar com vovó e vovô. Morei até 4 pra 5 anos. Era bem difícil. Mamãe precisou voltar pra BH para trabalhar e ficamos aqui. Mas ela vinha toda semana e trazia presentes e gostosuras que toda criança ama! <3 Obrigada, mamy!
Acho que, como passei os meus primeiros anos aqui, sempre amei vir pra cá nas férias, feriados, fins de semana… Enquanto era possível, não ficava mais de 15 dias sem vir! =)”
Como surgiu a ideia de morar no sítio? Você lembra quando veio aquela “luz” e você falou “é agora”?
“Desde que fui embora daqui, com os meus quase 5 anos. rs”
Do que você teve que desapegar ao se mudar?
“O principal, era o sinal de celular e internet (mas já demos um jeito nisto!). Mas também farmácia, supermercado, padaria, veterinário pros meus cachorros, lanches rápidos, telegás, telepizza, restaurantes. Acho que só. rs”
Como foi se adaptar a nova rotina? Conte um pouco do seu dia a dia antes e depois de se mudar.
“Nos primeiros dias, foi difícil demais! A casa é grande e dá muito trabalho para cuidar. Temos muitos animais e ainda não sabíamos direito como cuidar de todos. Molhar plantas, colher frutas, varrer terreiro, capinar… rs. No início foi tenso. Mas, agora, já temos mais ou menos um cronograma para facilitar.
Antes, a qualquer hora, podíamos almoçar fora, comer um lanche, a casa era pequena e fácil de cuidar. As roupas bem mais limpas (rs Sim, ainda não dominamos a técnica de quem mora aqui, de trabalhar o dia todo e a roupa não ficar suja!). Tinha o trampo, o trânsito, os ônibus cheios, um tanto de gente trombando na gente, ruas fedidas… rs
Agora, só o barulho dos bichos. A paz e a tranquilidade.”
Quais as maiores dificuldades que você teve que enfrentar até hoje? Você sabia como criar galinhas, fazer uma horta, capinar…?
“Como vinha muito aqui, tinha ideia de tudo. Mas não sabia, porque praticar é bem mais difícil do que quando vc só vê alguém fazendo. rs
Perdemos muitas galinhas. Elas estavam doentes e não sabíamos o que fazer. Agora, já providenciamos o galinheiro, os remédios e elas já estão boas. Tivemos muitas dificuldades. Mas, cada uma valia a pena, quando conseguíamos passar por elas.”
Vamos fazer um “expectativa” X “realidade”? Como você achava que ia ser e como foi de verdade?
“Achei que a internet seria péssima X André até joga online. É ótima!
As galinhas botariam infinitos ovos X Elas cismam de não botar e ficam ‘impirriadas’.
A conta de luz seria mais barata, por ser rural X DEUS! COMO VOU PAGAR ISTO? rs
Fazer a compra do mercado X Mercadinhos que você não acha nada direito.
Comer fora X Só se for fora da cozinha. rs
Sonhei tanto em vir pra cá, que já sabia que não seria muito fácil. Mas é indescritível, quando consegui, por exemplo, fazer um pão que eu nunca tinha feito. Curar machucados de um dos cachorros ou da mula. Arriar a charrete mesmo depois de tantos anos que vovô me ensinou… É bom demais!”
Lembra a primeira noite que você passou oficialmente na casa nova? Como foi?
“Chorei a noite toda. De felicidade de estar aqui e de tristeza de vovó não estar. :p”
Como vocês planejam o “sustento” de vocês agora?
“Pretendemos vender coisas que colhermos aqui, vender ovos e galinhas. Já compramos muitas e fizemos a horta pra eu plantar e vender verduras e legumes. Mas ainda vai demorar. Já vendemos ovos e algumas frutas, mas em pequena escala.”
Já teve alguma situação em que você não fazia ideia de como lidar, no sítio?
“Eita! Um monte. rs
Como espantar as borboletas das minhas lindas mostardas, como cuidar de um cachorro sem a ajuda do veterinário, como fazer pão sem vovó me ajudando, como arriar a mula (prendê-la à charrete! rs), como matar um milhão de marimbondos que invadiram a sala! Hoje mesmo, a mula está mancando e eu não sei o que fazer. :/”
O que você aprendeu vivendo na roça?
“Que não se colhe uma banana, se não cuidar do solo, molhar, regar, podar… Que não se come se você não se esforçar para trabalhar e alimentar os animais. Que quando você planta e cuida, tudo é mais saboroso, mais recompensador!
Que a vida mais simples é mais prazerosa. Que amigos de verdade, enfrentam lama, barro e mosquitos e vem te ver. <3″
Qual é seu maior motivo de felicidade hoje?
“Acordar beeem cedo, ver o sol nascer e se emocionar com os passarinhos cantando e o galo fazendo escândalo, para agradecer a Deus por mais um dia. É demais!”
Sempre que contamos a história de vocês pra alguém, ouvimos “que corajosos!” ou “que loucos!”. Você tem alguma coisa pra dizer pra essas pessoas? Uma dica, um incentivo, uma palavrinha…
“TODO MUNDO fala isto pra gente! Até mesmo o pessoal daqui. Eles dizem: “Na cidade, a vida é tão mais fácil. O que vcs estão fazendo aqui?”. Mas NADA se compara a alegria de acordar aqui. Tudo é mais difícil. Se quer um pão, tem que andar muito e arriscar não achar, ou, tem que fazer. Se quer algo do mercado, tem que ir à outra cidade, se quer remédio, bebe chá. rs
Mas o lance é desapegar mesmo. De tudo que a gente acha que precisa, quando o que precisamos mesmo, é de viver com tranquilidade, de bons amigos e de ter o que comer. E, se você se esforçar, nunca vai faltar nada. Tem uma música que define bem a vida pra mim, neste momento:
“Cuida do passarinho e também da flor
Eles esperam pelo teu amor
Faz do teu lar um ninho e do mundo, um chão
Onde se plante paz e comunhão
Para que brote e cresça a mais viva semente,
Para que a gente tenha o que colher,
Para que o pão que venha a ser por nós assado
Seja sinal traçado de viver.
Faz tua nova casa na varanda do velho chão,
Convida o teu irmão pra vir morar contigo,
Planta paredes novas, feitas para servir de lar e abrigo
Faz um café gostoso, põe a mesa no teu jardim,
Deixa que assim as plantas tenham paz contigo,
Convida o universo, faz a vida ganhar maior sentido.
Cuida da tua morada, cuida do pequeno mundo,
Deixa teu irmão bem perto, livre, livre…
João Alexandre – Paz e Comunhão”
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- Veja também o que fizemos em um final de semana quando fomos visitá-los
- Uma amiga nossa também escreveu um post especial aqui pro blog contando como foi a perspectiva e a experiência dela nessa viagem. Tá inspirador, principalmente pra quem sente vontade de fugir da cidade de vez em quando.
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